quinta-feira, 11 de setembro de 2008

des)Artes & Textos

"Pedras no meio do caminho"

Nascemos. Logo partimos em caminhada. A trilha está marcada em solo arenoso, cercado pelo desconhecido. O horizonte, destino pretendido, vamos definindo à medida que o caminho avança e em função dos obstáculos a superar. Esses - pedras no meio do caminho – tanto podem sugerir uma grande e intransponível barreira a exigir penoso atalho, como indicar o sacrifício da meta pretendida em favor de opções duvidosas. Tudo dependerá da audácia e da perseverança do andarilho.

Alcançar a vitória não significa, necessariamente, chegar ao destino antes traçado. Reside, também, em não se deixar abater pelas pedras no meio do caminho, mas em moldar o alcance do objetivo em função das dificuldades. Afinal, as pedras estão ali justamente para testar a persistência e a perspicácia de quem avança.

Certamente, ao longo da rota surgirão desvios que impressionam e empolgam, a sugerir deleite e aventura. É preciso ser decidido, forte e coerente para resistir à atração desses tentadores desvios e conduzir-se pelo duro atalho pleno de dúvidas, incertezas e sacrifícios.

O desvio que encanta e dissimula é o divisor de águas. Cabe ao andarilho optar pelo difícil que o conduzirá ao horizonte pretendido, ou deixar-se impressionar pelo fácil e agradável e alcançar o nada.

Forjar a vida consiste em saber recompor-se a cada revês, reestruturar as ações em função das agruras sofridas e, como barro novo após cada enxurrada, encontrar a razão de ser dentro de inesperado amálgama.

Dizem os teóricos de superfície que queimar etapas buscando desvios é a forma mais eficiente de se obter resultados. Mas, como fica o aperfeiçoamento que decorre, justamente, do erro e do acerto!?

Juracy de Oliveira Paixão (Setembro de 2004).

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

(des)Artes & Textos

Frágil, porém Forte

Habituamo-nos a considerar que "a resistência está para o aço, assim como a fragilidade está para o vidro". À luz do interior próprio dos materiais, não há dúvidas quanto ao suporte científico da comparação. O que nos cabe analizar, porém, são aspectos laterais, que envolvem o raciocínio.

Como reaje o ser humano ao sofrimento? Nem sempre os mais fortes fisicamente são os mais aptos a suportar a dor, ainda mais quando esta vem da tortura, que agride conceitos éticos e morais. É comum simples e sofridos presos políticos resistirem a meses de maus tratos sem trair seus contatos e objetivos, enquanto eventuais prisioneirostão somente suspeitosnutridos e bem situados, ao menor sopapo escancararem confissões impostas, “confirmando” fatos que lhes são inteiramente estranhos e desconhecidos apenas para se verem livres do suplício que lhes é aplicado.

É notório que as mulheres melhor resistem às crises depressivas e às dificuldades do que os homens, em que pese a aparência mais avantajada desses. Físico forte não é garantia de boa disposição e de capacidade de resistência.

O ser humano instala-se sobre alicerces que julga poderosos, até que os acontecimentos os abalem. Então, é preciso abrir janelas para consolidar uma nova estrutura. Abrir janelas implica em reconhecer fraquezas e admitir apoio.

Um simples pedregulho atirado pela funda do pequeno David atingiu o olho do gigante Golias e foi o bastante para lançá-lo ao chão.


Diante do temporal, há mais fortaleza nas frágeis asas da andorinha do que nos reforçados cascos dos barcos a navegar.

Juracy de Oliveira Paixão ( Fevereiro de 2003).