terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Meus amigos,

Anexo mais um artigo de (des)Artes & Textos, desta vez dentro do espírito natalino:


O Casulo da Vida e seus Mistérios

A vida não passa de um casulo onde germinam mistérios. Dentre estes, destacam-se os Mistérios da Fé e os Mistérios dos Fantasmas. Os primeiros se mostram coloridos de simplicidade pelo ardor da fé - fé objetiva e materialista. Os segundos se mascaram de roupagem atraente, na expectativa de que se manifestem sua subjetividade e abstração.

São Mistérios dos Fantasmas a esperança de sorte, o desejo de beleza e força, a ânsia por riqueza, a obsessão pelo poder. A simbologia dos Mistérios dos Fantasmas encontra espelho nas pedras preciosas, nos jogos - ditos de azar embora deles se espere sorte – nos búzios, pauzinhos, pedrinhas e apetrechos outros que funcionam como instrumentos condutores de espíritos.
Os Mistérios dos Fantasmas permeiam os sonhos dos esperançosos, alimentam as ilusões e os desejos dos desiludidos da realidade. Cada desilusão com os Fantasmas é um obstáculo a ser superado no caminho do viver.

Os Mistérios da Fé se apresentam na procura por trabalho, amor, sabedoria, saúde, felicidade, paz, honestidade, paciência, êxito. Por serem da fé realistae não daquela dos credos e crenças – dispensam símbolos e espelhos. Sua presença se dá pela perseverança, persuasão, tentativa, afirmação, esforço, procura incessante, coragem. Cada dia na Fé é uma pedra aposta no alicerce da vida.


Fantasmas e são uma simbiose a preencher a Existência Humana. Satisfazem-se os anseios de viver não somente sendo um Hércules herói mas também um Fernão Dias Paes Leme sonhador.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Mais uma noite de boemia

Irará anos 50. Rua Manoel Julião. Bar de Zé Petu. Uma mesa com seis lugares: três copos de cerveja a meia espuma, uma garrafa de Laranja Turva e um par de cálices cheirando a “Dois Leões”. Numa cabeceira, Dante a dedilhar as cordas, afinando o violão. Em frente, Zé Vermelho a pigarrear, aprontando a voz. Ladeando, Agnaldo Maia esfrega as mãos, preparando-se para as palmas. Outros três – platéia – esperam o esperado: noite de boemia, com toque e voz de ouro.

A música – e letra - não se sabe quem compôs ou escreveu. Sabe-se, apenas, que representa o sentimento de cada ouvinte:

O Beijo

O beijo
Pode ser roubado,
Pode ser comprado,
Ou de coração.

Na vida,
Já provei três beijos,
Vou contar, cantando.
Prestem atenção.

Beijo roubado
É um beijo emocionante,
Porém dura um só instante.
Eu provei, quase apanhei.

Beijo comprado
Não é beijo verdadeiro,
Pois tem gosto de dinheiro.
Eu provei e não gostei.

O beijo dado,
Este sim é verdadeiro
Porém dura um ano inteiro,
Para assim poder beijar

E foi preciso
Que com ela me casasse
Pra que ela me beijasse,
Mas assim é bom beijar.

Juracy Paixão. Fortaleza – 12/12/07

sábado, 8 de dezembro de 2007

Novo texto de (des)Artes & Textos


Mandalas há

“Mandala significa círculo em sânscrito. As técnicas de construção de mandalas fazem parte do aprendizado dos monges tibetanos, incluindo a memorização dos textos que especificam os nomes, proporções e posições das linhas principais que exprimem a estrutura básica das mandalas. Estas são, muitas vezes, constituídas por uma série de círculos concêntricos cercados por um quadrado que, por sua vez, é cercado por outro círculo. O centro da mandala representa a essência.”...Na suprema experiência da mandala, as cores e formas são simples metáfora.”... “A união do quadrado – enquanto símbolo da matéria finita – com o círculo – enquanto símbolo da unidade infinita - corresponde ao umbral de uma outra dimensão.”... “O átomo, o cérebro humano, o sistema solar, a via láctea podem ser visualizados como estruturas de mandalas de diversos níveis de hierarquia cósmica.”

Os trechos acima, entre aspas, vieram de diversos sites da Internet, ela mesma uma grande mandala virtual.

Os sistemas político-econômicos que exerceram e exercem sua influência e poder nas diversas partes do mundo são mandalas teóricas, umas a oferecer benesses futuras e duvidosas em troca da labuta atual e certa; outras, de veio científico no estudo da evolução social, se viram transformadas em fatos da história que passou. Deu-se isso com o Socialismo Real, que propunha alcançar o Comunismoo Estado Perfeito - no qual o próprio Estado não existiria como entidade, enquanto as pessoas se interligariam e se interdependeriam.

Sabendo como é egoísta a raça humana, podemos dizer que estaríamos, no Comunismo, diante de uma mandala materialista a oferecer o inalcançável, ao menos enquanto o egoísmo se fizesse presente.

Voltemo-nos, então, para o Capitalismo Real. O que encontramos? Uma hipócrita pregação em favor do Direito Comum (mas usurpado pelos poderosos), da Liberdade Plena (mas restringida por credos e medos). Diz oferecer Vida Livre e Benfazeja, mas de que vida está a falar? A dos assassinos? A dos pedófilos? A dos estupradores? A dos traficantes? A dos genocidas? A dos racistas ou a da grande maioria de seres desvalidos que crescem na miséria e morrem à míngua, observados pelas Luzes da Civilização?

Mandalas há: umas a oferecer o Imponderável, outras o Impossível e mais outras o Indesejável.

Juracy de Oliveira Paixão (Março de 2005).
Somos todos brasileiros?


Baiano residente em Fortaleza desde 1983 e casado com cearense do alto sertão, sinto-me como se fosse, eu também, cearense de raiz. Orgulho-me em morar nessa bela urbis, tão decantada em prosa e verso. Contudo, não perdi meus amores pela Bahia, terra natal. Ofendo-me, bairrista que sou, sempre que vejo comentários desairosos sobre a Bahia, tal como me sinto quando esses comentários são sobre o Ceará.

Faz algum tempo, “O Povo” publicou artigo da jornalista Patrícia Karam, intitulado “Ladeira abaixo”, no qual a articulista faz menção à Bahia e aos baianos de forma bastante depreciativa. Em certo trecho de seu artigo ela escreve: “... - e olha que o nível... ainda é mais baixo que o da baianada.”. Segundo o “Aurélio”, baianada vai de fanfarrice, passa por impostura e chega a patifaria.

O artigo comenta o Fortal e seus ritmos abaianados, evento que eu também abomino. Apenas, poderia a articulista fazer todas as críticas possíveis sem se dar ao papel quase xenófobo de criticar a Boa Terra, até porque agir assim é o mesmo que culpar, por exemplo, a nós baianos, pelos tempos de ACM, como se em cada rincão desse país não existissem outros acms.

Em outro trecho de seu artigo, menciona a jornalista que os grupos baianos copiam, “sem escrúpulos”, a coreografia dos “bailes funks cariocas”. Imaginemos os paulistas começando a espalhar que o cancioneiro do sertão cearense copia as modinhas rurais do interior paulista!!!!

Sou leitor assíduo dos dois grandes jornais fortalezenses. Deixei de ler a coluna da Regina Marshall porque, com freqüência, e por causa de qualquer me dá aquela palha, ela atacava de máfia do dendê e outras xenofobiazinhas, referindo-se à Bahia e aos artistas baianos.

Também não gosto de axé-music, como não aprecio falso forró. Sou fã do abará e do acarajé tanto quanto da rapadura e do baião-de-dois. Mas, o que amo, mesmo, é a escrita independente, quando ética e sem ranços.

A dar-se espaço e vazão a manifestações de timbre xenófobo, com o passar dos anos fatalmente proliferará em nosso país movimento separatista, com as regiões ricas de um lado e as pobres de outro - nesse último, baianos e cearenses igualados pela discriminação.

Nota: Não consegui que "O Povo" publicassse esse meu artigo.

Juracy de Oliveira Paixão