sexta-feira, 30 de novembro de 2007

2º texto de (des)Artes & Textos


As Asas da Imaginação


O bom da nossa capacidade de imaginar reside no fato de que, imaginando, poderemos sair da letargia. Nossa imaginação - fértil quando estamos ou somos ociosos - nos aponta esplêndidos horizontes, verdadeiros espelhos de cristal nos quais se refletirão nossos desejos mais recônditos: viajar por “mares nunca dantes navegados”, alcançar o cume de todos os everests, possuir a sapiência dos decantados sábios gregos, bafejar a sorte de Noé, galgar postos de faraós, satisfazer a todos com as nossas benesses.

A imaginação nos permite tornar, ainda que de forma fugaz, os nossos sonhos em realidade.

Mas se formos, em eventuais pesadelos, os algozes? Ou se vítimas no mal sonho, dele quisermos nos vingar? Em opaco espelho ofertado pela imaginação, haveremos de fazer fortuna a qualquer preço, agiremos com prepotência e arrogância nas relações com os semelhantes, demonstraremos uma superioridade própria dos mistificadores, seremos lobos saciados a devorar indefesos cordeiros.

As Asas da Imaginação não são senhoras do bem ou do mal. Antes, são frutos da Letargia. Esta, por sua vez, se manifesta conforme as regras do seu senhor.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007



A Incógnita e o Medo


Sempre que nos deparamos com o desconhecido passamos por uma sensação de medo, como se nos sentíssemos vulneráveis a algum perigo.

O desconhecido corresponde a um labirinto, do qual a saída somente é alcançada após várias tentativas frustrantes. Esse labirinto chama-se Vida e nele estamos permanentemente procurando uma saída desconhecida.

No labirinto chamado Vida, a entrada varia conforme as posses e os pretextos: uns a têm decorada com arabescos e ouro, outros a percebem iluminada por nobres archotes. Para a grande maioria, porém, a porta inicial é simples e semelhante. Seja dourada e clara a entrada ou seja ela pobre e nebulosa, a saída sempre estará – se existir saída – num desconhecido final de caminho.

O temor diante do desconhecido é fruto da nossa ignorância e sempre nos infunde incerteza, como se o mal estivesse presente quando da ausência do conhecimento.

O que somos, no Universo? Nada mais que um insignificante grão de areia. Somente nos tornaremos percebidos na medida em que agregarmos conhecimento à nossa imagem. Assim, ela deixará de ser algo difuso, repetido, tornando-se um clarão na noite escura da Incógnita.

Olhamos nossa própria imagem e nos atribuímos beleza, capacidade, ciência, força. Diante da Incógnita, diante da escuridão do desconhecido, não passamos de uma frágil janela decorada em busca de uma luz que nos conduza ao caminho para o Saber.

Atiçada pela Curiosidade, a Ignorância vence o Medo e age como uma alavanca na busca do Conhecimento.

Reconhecer-se ignorante é o caminho para a Sabedoria. No Labirinto da Vida, o Saber é a Saída.

Juracy de Oliveira Paixão (Julho de 2003).

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Nestes tempos em que muitos fazem e poucos se beneficiam, nada mais oportuno do que um poema de Berthold Brecht:


Perguntas De Um Operário Que Lê.

Berthold Brecht

Quem construiu Tebas, a das sete portas?
Nos livros vem o nome dos reis,
Mas foram os reis que transportaram as pedras?

Babilônia, tantas vezes destruída,
Quem outras tantas a reconstruiu?

Em que casas
Da Lima Dourada moravam seus obreiros?

No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde
Foram os seus pedreiros?

A grande Roma
Está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu?

Sobre quem
Triunfaram os Césares?

A tão cantada Bizâncio
Só tinha palácios
Para os seus habitantes?

Até a legendária Atlântida
Na noite em que o mar a engoliu
Viu afogados gritar por seus escravos.

O jovem Alexandre conquistou as Índias
Sozinho?

César venceu os gauleses.
Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?

Quando a sua armada se afundou, Filipe de Espanha
Chorou. E ninguém mais?

Frederico II ganhou a guerra dos sete anos
Quem mais a ganhou?

Em cada página uma vitória.
Quem cozinhava os festins?

Em cada década um grande homem.
Quem pagava as despesas?

Tantas histórias
Quantas perguntas.