terça-feira, 7 de abril de 2009

Fundo, Cores & Formas

As imperfeições da vida são como defeitos em madeira velha: resistem ao tempo. Temos que entender a vida como se ela fosse o Fundo da nossa existência. O Viver seria a representação desse Fundo nas suas mais diversas formas e cores.

O Ser Humano é complexo, já que é regido por emoções, estas sujeitas a influências que vão desde o Preconceito até o Humor, passando pela Arrogância, o Racismo, a Prepotência, o Saber e o Não Saber. Da interação desses sentimentos e ações, dependerá a condução que cada um dará a seu destino. Para o Bem e/ou para o Mal.

Uns serão volúveis como as esferas, verdadeiras maria vai com as outras, girando ao sabor do empurrão ou da ladeira. Outros, incapazes de olhar ao redor, de perceber os acontecimentos, não passarão de simples cilindros que somente andam para frente e para trás, como se não existissem as laterais. A incapacidade de ouvir e de entender os torna, simultaneamente, ocos e tapados, ainda que, na sua prepotência, se ponham a encarar o sol como se fossem deuses.

Quem nada tem a mostrar e muito a esconder, procede como o camaleão, que se matiza conforme o ambiente para escapar do predador. Agindo assim, passam pela vida sem vivê-la. Afinal, a exposição é o melhor aprendizado.

Alguns se crêem puros, por trazerem a cor do lírio. Não passam de canos fétidos, por onde escoa a borra do racismo. O próprio lírio, aliás, tem odor enjoativo.

Túmulos, há. Convencionou-se, nesse mundo de preconceitos, que a morte é preta. Ora bolas, para a mesma terra chã vão os corpos negros e os corpos brancos, irremediavelmente. Todos a apodrecer.

Houve um tempo em que pretensa fé nos fez crer que a Terra era o centro do universo, enorme disco a girar pelo espaço, comandando os outros astros. O Conhecimento desvinculado da fé pôs tudo no devido lugar, mostrando que o enorme disco não passa de pequenina esfera azul, dependente da luz solar para sobreviver.

Dentre as emoções a que estamos sujeitos, uma das mais marcantes é a solidão. Solitários, ficamos marrons, impenetráveis ao arco-íris que nos cerca. É como se estivéssemos a olhar o mundo por uma janela voltada para o nosso interior.

O aperfeiçoamento das idéias
, fruto natural do conhecer, nos assemelha aos prismas, que possuem esquinas, cruzamento de linhas, verticalidade e profundidade. Conviver com os defeitos, as falhas e as sinuosidades - nossas e dos nossos semelhantes - tem por finalidade registrar as nossas diferenças. Tais defeitos, de tão importantes e belos, - e azuis como o infinito - nos parecem vermelhos, como vermelha é a nossa própria seiva. O conhecimento nos dá a sabedoria do Não Saber, permitindo-nos ver montes verdejantes em planície arenosa. Até um simples cubo de madeira nos parece belo e prateado retrato.

Na verdade, viver a vida é apoderar-se de todas as suas formas e cores (sofrimentos e alegrias), refletidas num fundo de imperfeições representado por nós mesmos.

Juracy de Oliveira Paixão ( Outubro de 2002).