domingo, 20 de abril de 2008

Caroa amigos,





Incluo mais um artigo de (des)Artes & Textos





Tortura


Farpas e pontas sempre lembram dor. Dor lembrada é dor sentida.

Para quem escapa da morte como conseqüência da tortura, o sofrimento vitalício fica por conta da memória. Todas as agressões sofridas, todos os momentos de tensão – e de espera – tornam-se na lembrança a repetição psíquica do sofrimento físico passado.

A tortura tem a capacidade de perpetuar no torturado a pena que lhe foi imposta. Ao torturador basta o esquecimento dos atos praticados para que a ocorrência deixe de existir.

Mais hediondo do que furar, cortar, bater, pisar, é registrar na memória do ofendido cada agressão, de tal modo que ele se torna vítima e algoz de si mesmo.

O torturado que cala – não denuncia - sofre por si e pelo outro, já que o torturador, incapacitado de identificar pela denúncia forçada, nova vítima, põe na disponível a carga de sofrimento que reservou para a desconhecida, não denunciada.

Por que cala o torturado!!?? Porque há uma dor maior do que a física: a dor do desprezo, da fraqueza reconhecida.

Pode o torturado perdoar o torturador? Haverá de ser, se tal é possível, um perdão sempre repetido, a cada lembrança do sofrimento passado.

Pelo ato de torturar, o torturador – pretenso ser humano - mostra que está longe de alcançar o reino animal.

Juracy de Oliveira Paixão (Maio de 2003).

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