quarta-feira, 11 de maio de 2016

A Conquista da Lua

                                                                       Juracy Paixão

“... e a nave brilhante, plena de homens audazes, alça-seno espaço impenetrável, em busca do desconhecido”. Assim, o ”vidente” JúlioVerne fala da viagem do homem à Lua. Entre tantas maravilhas criadas, dentre tantas coisas descobertas, nada foi tão aguardado como a conquista da Lua pelo homem. Não foi o feito de uma nação... Foi um feito da Humanidade.

Dois países antagônicos na política, nos costumes, no modo de vida, perseguiram e se perseguiram, passo a passo, no caminho da Lua. A fita de chegada tinha que ser cortada por um deles, gigantes preparados para uma luta gigante. Ao vencedor os loiros, à Humanidade a vitória.

Muito mais conquista do que pesquisa, as tentativas de alcançar o nosso satélite natural ofereceram, contudo ,uma série de vantagens para toda a população do planeta: desde o desenvolvimento miraculoso das comunicações a longa distância, até os novos e ultra-modernos processos de propulsão, de análise, de imunização. Porém, num mundo dividido entre a abundância e a escassez, entre a saúde e a doença, entre o conhecimento e a ignorância, poucos são os que se sentem heróis por pertencerem a um planeta que se arroja pelo Espaço Incomensurável.

Enquanto americanos contemplavam o Espaço Azul onde penetraram os seus ídolos e a sua bandeira, vietnamitas temiam o mesmo Azul de onde caíam e caem bombas que destroem suas cidades e matam suas crianças... Enquanto Armstrong e seus companheiros se alimentavam de banquetes cientificamente elaborados, indianos morriam à mingua nas ruas de Calcutá e Nova Delhi... Enquanto uma multidão ululante de alegria e entusiasmo recepcionava a volta triunfal da nave Apolo, outra multidão, cheia de ódio e recalques, espezinhava e chacinava negros, na negra África do Sul.... Enquanto judeus do mundo inteiro, lado a lado com os povos dos países que os acolheram, saudavam a vitória da técnica do judeu Von Braun (técnica que foi propriedade dos destruidores de judeus), israelenses matavam árabes que nada mais queriam do que suas terras pelas armas ocupadas.

Assim é a realidade: não que a ciência deva parar de alcançar êxitos, só porque deixa atrás de si problemas insolucionados; porém, num mundo de guerras, ódios e vinganças, até os feitos magníficos saem manchados de sangue e a melhor das vitórias não passa de uma Vitória de Pirro.


                                                           Publicado em “O Manacá”

                                                           Valença/BA – Abr.71

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