A Conquista da Lua
Juracy
Paixão
“... e a nave brilhante, plena de
homens audazes, alça-seno espaço impenetrável, em busca do desconhecido”.
Assim, o ”vidente” JúlioVerne fala da viagem do homem à Lua. Entre tantas
maravilhas criadas, dentre tantas coisas descobertas, nada foi tão aguardado
como a conquista da Lua pelo homem. Não foi o feito de uma nação... Foi um feito
da Humanidade.
Dois países antagônicos na
política, nos costumes, no modo de vida, perseguiram e se perseguiram, passo a
passo, no caminho da Lua. A fita de chegada tinha que ser cortada por um deles,
gigantes preparados para uma luta gigante. Ao vencedor os loiros, à Humanidade
a vitória.
Muito mais conquista do que
pesquisa, as tentativas de alcançar o nosso satélite natural ofereceram, contudo
,uma série de vantagens para toda a população do planeta: desde o
desenvolvimento miraculoso das comunicações a longa distância, até os novos e ultra-modernos
processos de propulsão, de análise, de imunização. Porém, num mundo dividido
entre a abundância e a escassez, entre a saúde e a doença, entre o conhecimento
e a ignorância, poucos são os que se sentem heróis por pertencerem a um planeta
que se arroja pelo Espaço Incomensurável.
Enquanto americanos contemplavam
o Espaço Azul onde penetraram os seus ídolos e a sua bandeira, vietnamitas
temiam o mesmo Azul de onde caíam e caem bombas que destroem suas cidades e
matam suas crianças... Enquanto Armstrong e seus companheiros se alimentavam de
banquetes cientificamente elaborados, indianos morriam à mingua nas ruas de
Calcutá e Nova Delhi... Enquanto uma multidão ululante de alegria e entusiasmo
recepcionava a volta triunfal da nave Apolo, outra multidão, cheia de ódio e
recalques, espezinhava e chacinava negros, na negra África do Sul.... Enquanto
judeus do mundo inteiro, lado a lado com os povos dos países que os acolheram, saudavam
a vitória da técnica do judeu Von Braun (técnica que foi propriedade dos destruidores
de judeus), israelenses matavam árabes que nada mais queriam do que suas terras
pelas armas ocupadas.
Assim é a realidade: não que a
ciência deva parar de alcançar êxitos, só porque deixa atrás de si problemas
insolucionados; porém, num mundo de guerras, ódios e vinganças, até os feitos
magníficos saem manchados de sangue e a melhor das vitórias não passa de uma Vitória de Pirro.
Publicado
em “O Manacá”
Valença/BA
– Abr.71
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