Somos todos
brasileiros?
Baiano residente
em Fortaleza desde 1983, e casado
com cearense do alto sertão, sinto-me
como se fosse, eu também, cearense de raiz. Orgulho-me em morar nessa bela urbis, tão decantada em prosa e verso.
Contudo, não perdi meus amores pela Bahia, terra natal. Ofendo-me, bairrista
que sou, sempre que vejo comentários desairosos sobre a Bahia, tal como me
sinto quando esses comentários são sobre o Ceará.
No dia 22 de julho do corrente ano, “O Povo” publicou artigo da jornalista Patrícia Karam, intitulado “Ladeira abaixo”, no qual a articulista
faz menção à Bahia e aos baianos de forma bastante depreciativa. Em certo
trecho de seu artigo ela escreve: “...- e
olha que o nível... ainda é mais
baixo que o da baianada.”. Segundo o
“Aurélio”, baianada vai de fanfarrice, passa por impostura e chega a patifaria.
O artigo comenta o
novo Fortal, evento que eu também abomino, e destaca a
agressão sofrida pelos moradores da Beira
Mar durante tal evento ( com o que também concordo). Apenas, poderia a
articulista fazer todas as críticas possíveis sem se dar ao papel quase
xenófobo de criticar a Boa Terra, até
porque agir assim é o mesmo que culpar, por exemplo, a nós baianos, pela
existência de ACM, como se em cada rincão desse país não
existissem outros acms.
Em outro trecho de
seu artigo, menciona a jornalista que os grupos baianos copiam , “sem escrúpulos”, a coreografia dos “bailes funks cariocas”. Imaginemos os
paulistas começando a espalhar que o cancioneiro
do sertão cearense copia as modinhas rurais do interior paulista !!!!
Sou leitor assíduo dos dois grandes jornais fortalezenses.
Deixei de ler a coluna da Regina Marshall porque, com freqüência, e por causa
de qualquer me dá aquela palha, ela
atacava de máfia do dendê e outras
xenofobiazinhas, referindo-se à Bahia e aos artistas baianos.
Também não gosto de axé-music,
como não gosto de falso forró. Aprecio o abará
e o acarajé tanto quanto adoro a rapadura e o
baião-de-dois. O que amo, mesmo, é a escrita independente, quando ética e sem ranços.
A dar-se espaço e vazão a manifestações de timbre xenófobo,
com o passar dos anos fatalmente proliferará em nosso país movimento
separatista, com as regiões ricas de um
lado e as pobres de outro - nesse último, baianos e cearenses igualados pela
discriminação.
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