Seleção, Razão &
Fonte
Há
44 anos o cronista arremedo deixou a
cidade, seu Irará, e por vários anos não retornou. Depois, tempo sim, tempo não, aparecia a título de abraçar os parentes e
amigos, olhar a velha casa paterna. Na verdade, o que ele queria rever era sua
cidade, tal e qual nos seus sonhos. A partida foi conseqüência do que lhe
ensinara seu pai – ir à luta, com coragem e determinação. Em outras plagas
mirou novas paisagens, coloriu muros com piche, ouviu verbos plenos de
esperança, bafejou e foi bafejado por azares e sortes, quis mudar o mundo,
fazer revolução A seu modo, a fez. De vermelho pintou seu coração grená,
cravando nele foice e martelo. Em berioskas bebeu vodka como se fosse “Dois Leões”. Na Praça Vermelha orou no túmulo de Lénine, rogando pelo triunfo do
socialismo em sua pátria. Cada muro que pichou, cada vez que ergueu os braços,
cada panfleto que distribuiu, cada choro que lhe afogou os olhos calaram fundo
na memória, preenchendo espaços ou substituindo ilusões. Um canto, porém, do seu cinzento jamais foi abalado:
aquele que registrou, como o bom carimbo
em almofada molhada, as coisas que viu, ouviu e participou no seu Irará
querido.
A memória viva é a
Fonte de onde jorrou as páginas a seguir. Erros há, pois errar é acertar a vida. Espera-se da crítica construtiva a ajuda
para os consertos.
O cronista arremedo optou pelo estilo coloquial-barroco –
invenção sua – aquele que caça uma ortografia justa mas deixa de
lado a prepotência da Pontuação Absoluta,
da Concordância Rigorosa, da Semântica Elitista e de outros atributos
gramaticais. Deixou-os de lado não por ignorar seus méritos, mas por julga-los
inadequados ao espírito do objetivo traçado. Sabe que tal perjúrio será motivo para arder em fogueira.
O incentivo veio
da rija índia cearense, sua Bethe,
flor mimosa e perfumada, cactus sem
espinho a florescer em árido sertão. As lacunas da memória – lacunas sem vazio, diga-se de passagem –
foram sanadas pelo apoio certo das irmãs Ivanete, Hilda e Jandira, além da comadre Peta, da colega Lindinalva e da
grande amiga Nete (do seu velho
companheiro Lito).
A Razão nasceu da teimosia dos sonhos a insistir no registro.
Sonhar faz bem, mesmo quando pesadelo, esse um alerta para a atenção no risco.
Sonha-se quando o subconsciente quer conversar, meter papo novo na rotina do consciente. Do sonho para a realidade
é uma simples questão de ajuste.
Os sonhos fizeram a seleção.
Um desejo – quem sabe – de ter sido o
cronista arremedo cada um dos
personagens retratados, essências puras do que considera virtude, prazer,
perseverança, caráter, consciência, humanidade.
O Bem está feito. Ou será o Mal ?!
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