quarta-feira, 11 de maio de 2016

Eu e meu compadre Zé Messias

Mudei-me para Valença (Bahia) em agosto de 1969, contratado por Dalmo da Silva Costa para desenvolver, implantar e administrar o Programa de Manutenção Preventiva da Companhia Valença Industrial, a primeira fábrica têxtil do Brasil. Lá chegando, fui muito bem recebido por José Augusto dos Santos (então gerente Industrial), fui odiado por José Andrade Soares (diretor administrativo) por ter me revelado um comunista de capa-e-espada, fui olhado com desdém por um ou outro técnico (já que eu não tinha formação em tecnologia têxtil), fui visto com certa interrogação por alguns outros (“o que será que este cara vai fazer?”) e fui amigavelmente acolhido por mais outros, como Luís Barbosa da Fonseca Lima e Cândido Giarolla.

Logo, as minhas aptidões de relacionamento e consumo de Brahma fizeram com que os da interrogação se aliassem aos da boa acolhida e eu fosse convidado para morar com eles, na República dos Técnicos. Logo, e por providências de Luís Barbosa, filiei-me à ABTT.

Conheci Zé Messias ao dar um giro de avaliação pela sala da expedição, onde ele trabalhava como auxiliar do Alípio, que era o chefe do setor. Messias me ajudou a entender a finalidade daquelas máquinas, a medir, dobrar, enrolar, esticar, cortar, embalar e prensar pano. Foi o primeiro e importante contato.

Sem muita demora, Alípio saiu e Zé Messias assumiu a chefia do Setor de Embalagem e Expedição. Casou-se com Maria Célia, a Celinha secretária de Zé Augusto, querida por todos por seu jeito meigo de lidar com os reclamantes e abusados. Eu, mais tarde, casei-me com Regina, filha de Nildo Costa.

Mostrando alto grau de capacidade administrativa e operacional, Messias foi enviado pela CVI para fazer o curso de técnico têxtil na CETIQT. Em seu lugar, como supervisor do Setor de Embalagem e Expedição, ficou Jailton Azevedo, que era seu auxiliar. Jailton, mais tarde, também foi enviado à CETIQT.

Messias retornou formado, com especialização em acabamento, e assumiu a rameuse, a flaneladeira, a mercerizadeira, os autoclaves e os giggers. Era o que a CVI tinha de acabamento. A tinturaria, contudo, tinha um novo chefe, em substituição ao meu amigo Cândido Giarolla, mineiro vei e bom de brahma.

Messias não possuía carro. Eu, a essa altura, tinha comprado do Alex um volks quatro portas branco, com 80.000 km rodados. Esse volks substituiu um chevette verde, comprado zero km lá em Cruz das Almas.

Lorena, minha filha com Regina, nascida em janeiro de 1975, fora dada como afilhada de Celinha e Zé Messias. A amizade, a essa altura, já se estendia ao compadrio. O dever, agora, era sair todo fim de semana, os quatro juntos, para bebericar pelas bodegas da periferia e no bar do Clube do Rodão, dançar forró nas festas de São João e bolar passeios rodoviários.

Nosso primeiro passeio foi uma viagem de feriado a Ilhéus e Itabuna (melhor dizendo, Itabuna e Ilhéus), eu dirigindo na ida e Zé dirigindo na volta. Depois, a amizade se aprofundou, graças ao elo de compadres quase irmãos, e fomos a Irará, para que Messias e Celinha conhecessem meus pais e a minha cidade natal. Na volta, à noite, os dois mais pra lá do que pra cá, quem dirigiu foi Regina, que abusava da velocidade, alegando que seu pai, Nildo Costa, “tinha lhe ensinado tudo direitinho”.

Fizemos uma viagem de férias a Aracajú, onde visitamos Lealdo e família, além de Wulpiam, que, a essa altura, já trabalhava por lá.

Nossa principal viagem, porém, foi a Recife, quando ficamos hospedados na casa de Gonçalo, um casarão lá pras bandas de Caxangá. Foi uma semana de farra: íamos passear na Boa Viagem e almoçávamos num restaurante que havia na Pracinha da Igrejinha. As esposas, Celinha e Regina, preferiam andar pela feirinha, vendo e comprando artesanatos, enquanto nós, de bom grado e cordialidade, optávamos por ficar na sacada do restaurante, tomando licor Stregga.

Messias foi trabalhar em Recife: primeiro na Torre, depois na Capibaribe e, finalmente, com o manda-chuva Luis Barbosa, na Camaragipe.

Em julho de 1979, fui convidado pelo Mauro Rios para trabalhar na José Rufino. Alex, na mesma época, foi convidado pela Paulista. Viajamos juntos, para os primeiros contatos. Ao chegar em Recife, telefonei para Messias e ele exigiu que eu ficasse hospedado no apartamento dele, lá prás bandas de Candeias. Acertei “as coisas” com a José Rufino e resolvi alugar um apartamento para cuidar, logo, da minha mudança. Foi Celinha quem me ajudou, andando de carro pelas ruas de Boa Viagem e Piedade. Afinal, de Recife eu nada conhecia. Terminei por alugar um apartamento na Rua Sebastião Leme, na Boa Viagem (atrás do Supermercado Compre-Bem e a um quarteirão da praia).

Quando chegamos de mudança, mais uma vez ficamos, eu, Regina e Lorena, uma semana no apartamento de Zé Messias, aguardando as “nossas coisas” para mobiliar o apartamento alugado.

A partir daí, era domingo sim com Zé Messias e Celinha e domingo sim com Alex Medina e Vera. Messias foi morar em uma casa próxima à Caxangá e Alex morava em um apartamento por trás da Rua Barão de Souza Leão. Uma vez ou outra, quando convidados, íamos todos para “Maria Farinha” onde o manda-chuva Luís Barbosa tinha uma bela casa de praia. Lá, a cortesia de Luís e Zelinha compensava com sobra. o trânsito que se enfrentava: era caranguejo, agulha-frita, e Brahma, muita Brahma.

Saí da Zé Rufino, fui para a Macaxeira e, depois, vim para Fortaleza. Messias, por seu turno, passou a trabalhar como representante comercial da indústria química e nossos contatos ficaram difíceis.

Voltamos a nos ver, já no ano de 1994, eu casado com Elizabethe e ele morando em uma casa de dois pavimentos em Aracaju. Após esse encontro, nunca mais nos vimos, a não ser pelos recursos da Internet.

Foi com enorme tristeza que fiquei sabendo, pelo e-mail do Luís, da sua partida definitiva. Perdi um grande amigo, irmão, compadre e companheiro, a Indústria Têxtil perdeu um grande profissional e Valença passou a ter menos importância.

A vida é assim: feita de bons e maus momentos, de boas e más ocorrências. Mas, o que se há de fazer?!


                                                                                  Juracy Paixão

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