sábado, 28 de maio de 2016

Poesia Matemática

Millor Fernandes

 Às folhas tantas
Do livro matemático,
 Um Quociente apaixonou-se,
Um dia, doidamente,
Por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
E a viu do ápice à base: uma figura impar;
Olhos rombóides, boca trapezóide,
Corpo retangular, seios esferóides.

Fez da sua uma vida paralela à dela,
 Até que se encontraram no infinito.
 “Quem és tu?”- indagou ele, em ânsia radical.
 “Sou a soma dos quadrados dos catetos.
Mas pode me chamar de Hipotenusa”.

E, de falarem, descobriram que eram
(o que em aritmética corresponde a almas irmãs)
 Primos entre si.
E se amaram ao quadrado da velocidade da luz,
Numa sexta potenciação...
Traçando, ao sabor do momento, e da paixão,
Retas, curvas, círculos e linhas senoides
Nos jardins da quarta dimensão.

Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidianas
E os exegetas do universo finito.
Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.
E, enfim, resolveram se casar,
Constituir um lar,
Mais que um lar, uma perpendicular.
Convidaram para padrinhos o Polígono e a Bissetriz.
E fizeram planos, e equações, e diagramas para o futuro.
Sonhando com uma felicidade integral e diferencial.

E se casaram,
E tiveram uma secante e três cones muito engraçadinhos.
E foram felizes até aquele dia em que tudo vira, afinal, Monotonia.

Foi então que surgiu O Máximo Divisor Comum,
Frequentador de círculos concêntricos viciosos.
Oferecendo a ela, uma grandeza absoluta...
E reduziu-a a um denominador comum.

E Quociente percebeu que com ela não formava mais um todo, uma unidade.
Era um triângulo, tanto chamado amoroso.
Desse problema ela era uma fração, a mais ordinária.

Mas foi então que Einstein descobriu a relatividade,
E tudo que era espúrio passou a ser
Moralidade, como, aliás, em qualquer Sociedade.

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